HISTÓRIAS
Foto: Isabella Vasconcelos
Wagner de Sousa, reciclador da Associação dos Recicladores Boa Esperança (ARBE), atua nela faz trê anos. Anteriormente, ele trabalhava como pedreiro de modo que alega que por problemas de saúde e pela retirada de benefícios, optou pela reciclagem "Desde 1979 vim trabalhando de pedreiro, daí dei problema na coluna e o governo cortou meu benefício aí não dou conta de trabalhar como pedreiro e vim trabalhar na reciclagem...". Morador do bairro São Jorge de Uberlândia, ele demora uma hora para chegar na associação e tirar seu sustento com satisfação e orgulho através do que é apenas lixo para outrem, "...pra mim, eu tenho orgulho de trabalhar aqui, porque é do lixo que eu tiro meu sustento, meu aluguel, remédio que eu compro...".
Por ser uma associação não há remuneração fixa, dessa forma, Wagner trabalha muito para obter mais e sustentar ele e seus dois filhos em casa " Olha, sem essa ajuda trabalhista é ruim...eu dependo é disso aqui, eu não posso perder nenhum dia aqui, meu dinheiro, minha comida é tudo disso aqui...". Além disso, há alegações feitas contra a falta de apoio da prefeitura com os recicladores que colaboram substancialmente para o meio ambiente e para a movimentação econômica sendo que apenas receberam materiais de proteção por meio de doações "Ah, prefeitura... prefeitura pra nois só manda lixo. Mandava leite e a agora eles nem manda mais, manda agora só um pão com um pouquinho de manteiga. Isso daí é doação que o pessoal deu aí pra nós, luva, óculos,camiseta e botina...".
Em meio a tantos obstáculos, o reciclador ainda enfrenta o preconceito da população mas prefere focar nos benefícios que o seu trabalho oferece "Muita gente olha com desprezo e hoje mesmo eu tava falando que tenho orgulho desse lixo porque é ele que dá minha comida". Trabalhar com reciclagem exige muito esforço e tempo para obter uma quantia significativa fazendo com que seja necessário reciclar até nos feriados, pois os valores dos materiais recicláveis alteram periodicamente.
A felicidade de Wagner, de acordo com ele, aparece quando chega um caminhão cheio, no entanto, alega que precisa trabalhar muito para obter um bom dinheiro e para assim, talvez, conseguir possíveis férias. Pode-se afirmar que ele é um exemplo de alegria, de simpatia e de disposição, mostrando a todo momento o orgulho pelo seu trabalho que colabora ecologicamente, economicamente e socialmente para a cidade e para o país.
Foto: Olívia Diniz
Dona Cila, 65 anos, trabalha na Associação de Catadores e Recicladores de Uberlândia (ACRU) há 8 anos. Em 1998, Cila Maria da Silva, natural de Cuiabá, veio para Uberlândia com seus filhos a fim de buscar melhores condições de vida. Ao longo do tempo, ela trabalhou muito para criar seus filhos tanto que teve diversas experiências de trabalho, e quando é colocado em comparação seu trabalho anterior na fábrica de farinha de mandioca, ela alega que prefere trabalhar atualmente com a reciclagem: "Gosto daqui... é que lá...eu mexia com muita água...".
Moradora do bairro Joana D'arc, Dona Cila diz pegar dois ônibus e andar uma parte do trajeto para chegar na ACRU "Ah... eu saio umas 4 horas e tomo um banho e nois chega aqui lá pelas 7 horas e chego lá (em casa) quase 7 horas da noite". Em meio a tanto trabalho, Cila também conta que reserva todos os sábados para ajudar no almoço voluntário feito para os moradores de seu bairro "...no sábado eu trabalho voluntário, eu ajudo a fazer sopa no centro né, lá mesmo no bairro onde eu moro. Aí nois vamo pra lá, lá pelas 6:30 da manhã e nois volta pra casa meio dia...".
Mesmo com as dificuldades, Dona Cila, é repleta de simpatia e humildade, e sente satisfação com a reciclagem e suas ajudas voluntárias sendo assim, um exemplo para todos pois suas ações colaboram tanto no âmbito social quanto no âmbito ambiental.
Foto: Olívia Diniz
Alessandro, presidente da ACRU diz que recebem em média trinta toneladas por dia e que até o fim do mês eles conseguem fazer a separação de tudo.
Ele nos conta que quando estava na antiga associação em que trabalhava, ele tinha que fazer a prensa dos materiais todos no braço e que isso resultou em alguns problemas musculares. “Nós entravamos dentro, fazia força e ia pisando”, disse ele.
O Alessandro nos conta que há três anos eles mudaram pro local que estão agora, eles estavam de um lado do barracão, pediram pra desocupar, fizeram a divisória e dividiram em três associações e que a antiga associação era um lugar perto da granja do vale.
Ele, juntamente com seu colega de associação, Leonidas lembram que trabalhavam no em um lugar precário, e que isso resultou em alguns problemas, mas que hoje em dia agradece que de pouco em pouco eles estão conquistando mais coisas e mais espaço.
Foto: Mariana Palermo
Há 5 anos Aparecido Cristino largou o seu emprego como gerente de fazenda para trabalhar na Associação de Catadores e Recicladores de Uberlândia (ACRU) com sua esposa. Com 53 anos, seu Aparecido sente orgulho em dizer que trabalha para o melhor de todos. Ele relatou para a gente o fato de que a visão das pessoas sobre o seu trabalho tem mudado “Antigamente, as pessoas tinham uma visão da gente como catadores de lixo, hoje não, você é um reciclador. ” O uberlandense aponta que um grande problema da sua cidade é a epidemia de dengue, e que a reciclagem pode amenizar essa situação ao diminuir a quantidade de lixo nas ruas. Além disso, a reciclagem tem gerado mais emprego e auxiliando no meio ambiente, “Vamos diminuir o lixo do aterro e aumentar o potencial de transformação do material em benefício para todo mundo”, afinal, com o aumento da quantidade de material chegando nas associações, maior a renda que pode ser retirada pelos trabalhadores.
Preocupado não só com sua renda, mas também com o meio ambiente, seu Aparecido recolhe pessoalmente o material reciclável de alguns bairros que não possuem coleta seletiva “Tenho prazer em ver um papel na rua, parar meu carro, catar e por dentro do meu carro”, ele leva esse material para a associação para que seja prensado junto com o material trazido pela prefeitura da cidade.
Sobre os problemas vividos pelos catadores, seu Aparecido destaca a falta de conscientização das pessoas na hora de separar o lixo reciclável do não-reciclável “Tem muitos bairros que não tem essa conscientização ainda, mistura o lixo orgânico com o lixo seco”, ele e seus colegas de profissão relatam casos de chegar papel de banheiro, seringa e outros materiais que podem contaminar os trabalhadores. Portanto, faz-se necessária a conscientização da nossa sociedade sobre o cuidado que devemos ter para separar os materiais.
Foto: Camila Souza
Esta é Sônia Maria de Souza, uma das catadoras da associação Assotaimã. Aos cinquenta e seis anos, Sônia tira da coleta de recicláveis o sustento de sua família composta por ela, sua filha doente e seus dois netos e atua na área desde criança. “[ Eu gosto desse serviço, já acostumei a trabalhar com isso aqui desde os 8 anos. Não gosto de outro tipo de serviço. Morava em Canápolis quando era criança e a gente mexia com esses trem... e tamo limpando o planeta também, que é muito bom. Eu trabalho para manter em casa, a boca das crianças, ajudar meus filhos, comprar remédios, aluguel, energia, água, é isso...]” conta Sônia sobre sua experiência de vida.
Sônia, assim como os demais trabalhadores associados, não possui nenhum tipo de auxílio ao trabalhador. Sem direito a férias remuneradas, plano de saúde ou até mesmo carteira de trabalho assinada, ela enfrenta diversas circunstâncias para sobreviver com o baixo salário arrecadado a partir da contagem de lixo separado por ela mesma. No entanto, apesar das dificuldades, afirma ser um grande orgulho atuar na área. A reciclagem representa geração de empregos e o caminho para um mundo renovável, onde nada é jogado fora, mas sim reutilizado e para ela, significa dar uma origem ao que os olhos alheios vêem como lixo.
Em média, apenas 6% do resíduo coletado nas capitais brasileiras são reaproveitados, e no total são cerca de 3% de todo o lixo produzido no país reciclado anualmente de acordo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Ao ser questionada sobre o assunto, dona Sônia conta sobre como as pessoas em geral não sabem a forma correta de reciclar, que muitas colocam o lixo errado em lugares indevidos e isso muitas vezes pode colocar os catadores de recicláveis em situações de risco. “[ sobre a reciclagem, muita gente não lava, mistura com papel higiênico, mods. Ai, quando vem caminhão estranho a gente trabalha com luva, material de proteção, em caso de ter seringa, caco de vidro. Muita gente não sabe reciclar direito e se soubessem ia melhorar muito pra gente, né... ia ser mais rápido, fácil...]”. Lembrando também, que resíduos não reciclados significam também lucro não arrecadado e material desperdiçado.
Sônia Maria de Souza é mais um exemplo de coragem e superação. Ela trabalha e vive com dignidade em uma área que a maioria julga como inferior, marginal e suja com muita satisfação. Catadores de recicláveis são invisíveis aos olhos de muitos, mas são de extrema importância para nossa sociedade, trazem benefícios inestimáveis a mesma e esperamos que no futuro sua profissão seja vista com muito vigor e estima por todos.
Foto: Mariana Palermo
Leonidas relata que no começo de tudo, antes de mudarem para o local que estão hoje, o lucro era pouco e além de tudo não pagavam eles corretamente. “Eu brigava com o povo pra dar um retorno pra eles, o primeiro fiscal da ARBE, pra você ver o jeito que é as coisas.”. Logo no primeiro mês em que mudaram para a nova associação, ele diz que receberam até dois mil reais logo no primeiro mês. “E eu tendo muitos anos, nunca tinha pegado cinquenta reais com as outras associações, então foi por isso que eu abri essa associação, pra dar uma melhoria pra eles, entendeu?”, diz ele.
A ARBE funciona à dez anos e conta com oito associados que ali trabalham de segunda à sexta para tirar uma renda mensal. Ele nos conta que quando estava na antiga associação em que trabalhava, ele tinha que fazer a prensa dos materiais todos no braço e que isso resultou em alguns problemas musculares. Leonidas reforça também que hoje muita gente reclama de barriga cheia, pois ali eles tem todo um material especifico para cada coisa, toda uma estrutura maior,
que antigamente sim eles teriam motivo pra reclamar, mas que agora, aos poucos, eles estão conquistando suas coisas.
Ele diz que é um trabalho muito pouco visto pela sociedade, que até hoje, há dez anos que eles estão trabalhando, ganharam apenas um jogo de uniformes e uma plataforma, que o restante quem corre atrás são eles porque ninguém, da prefeitura no caso, se preocupa em ver como eles estão ou se estão precisando de algo. Ele relembra que trabalhava no meio de cobras, sapos, ratos e que onde estão agora tem muita melhoria.